O
que será uma aparição? Um romance de Vergílio Ferreira*, e o próprio escritor,
que muito admiro, é ele também uma aparição descoberta; uma inesperada
revelação que me traz a manifestação súbita de um ente ou uma espera que
sabemos que chega mas não sabemos quando; a surpresa de uma luz tremeluzente
que se avista ao abrir uma antiga caixa baú; um fotolito encontrado na feira da
Vandoma que consegui imprimir, mesmo que já carregado de alguma ferrugem e
oxidação, num papel onde aparece a figura de uma menina à frente de uma árvore;
o milagre do ver, as visões de Nossa Senhora, os pastorinhos, a azinheira e o
prodígio solar de Fátima. E foi desta forma, amálgama de despojos, que me fui
somando ao fluxo de vivências que decorrem no mundo, para dele me saber e dele
me ver alheia, é este o enredo do livro que construí, com um certo cariz de
mistério, de transcendência, de fantasmagoria, de ilusão e de milagre. Assim «*só
há um problema para a vida, que é o de saber a minha condição e de restaurar a
partir daí a plenitude de tudo (...). Ah, ter a evidência ácida do milagre do
que sou, de como infinitamente é necessário que eu esteja vivo, e ver depois,
em fulgor, que tenho de morrer».
Texto: Cristina de OAlves (Madame Zine)
Técnica/Materiais: caixa de madeira, vela
de pilha, gravura calcográfica, envelope com papel artesanal, tela em moldura
com transferência de imagem manual, tinta acrílica, graxa, cola branca, papel
vegetal, livro com papel de aguarela e impressão fotográfica.