Exposição "álbum poético” - curadoria Cristina de OAlves | 2014 | vitrine do Passeio das Virtudes, nº 3, Porto

Um álbum poético é um enunciado de nós, de nós cá fora, na vida por aí, do nosso espaço geográfico, do nosso tempo, de nós com os outros e com cada qual de si, é também um prenúncio de uma intimidade partilhada, de nós cá dentro, vivendo. A exposição Álbum Poético anuncia o lugar dessa partilha, nela encontramos diversos livros de artista e/ou edições de autor que traduzem bem a amplitude das múltiplas perspectivas do que é um livro que reveste o carácter artístico. Há no entanto aqui dois sentido orientadores, um deles foi o apelo ao conceito de álbum, no sentido de revelar uma dimensão pessoal, por vezes até intimista, de memória, de familiaridade, de resguardo e protecção daquilo que nos é querido, especial e pertença, mas também da ideia de arquivo/documento e portanto de colecção na escolha do que queremos guardar e, quem sabe, mostrar, transmitindo essa pertença a outros. O outro dos sentidos orientadores da escolha dos livros expostos foi a carga poética, também contida no próprio conceito de álbum, na sua dimensão pessoal, que veicula a expressão livre do modo como o eu se traduz dando-se a ver aos outros – deste ver nascem encontros, consigo mesmo e com os outros e o livro torna-se assim um “abalo essencial”, 
uno e expressivo.

curadoria: cristina de oalves



Seleção de artistas: Ana Madureira; Daniel Moreira; Madame Zine; Nunes Zarelleci; Evelina Oliveira; José Rosinhas; Paulo Jesus; Rafaela Rodrigues e João Giz; Raquel Morais e Sara Lopes; Sónia Borges; Walter Almeida; Coleção D.Flagra (Nunes Zarelleci); Coleção Manuel Santos Maia (Manuel de Freitas, Júlia de Carvalho Hansen, Carlos Visnadi, Mauro Cerqueira, Ricardo Novais Pereira e grupo NAVE); Coleção Ó!Galeria (Mariana a Miserável, Tina Siuda e Sara Pazos); Ticket Books Project (Cristina de OAlves, Inês Caetano, Isabel Rodrigues, Joana Mendonça e Silvana Torrinha)

de 22 de maio a 21 de junho - Passeio das Virtudes, Porto








Livros: a aventura da autopublicação POR DANIEL CARIELLO, em Outraspalavras.net

Feira Plana, evento de venda de livros, fanzines e impressos independentes que acontece anualmente em São Paulo
Feira Plana, evento de venda de publicações independentes que acontece anualmente em São Paulo
Como quatro autores criaram selo editorial alternativo, lançaram suas obras sem intermediários, tiveram êxito e podem ser seguidos por gente como você
retirado de:
http://outraspalavras.net/posts/livros-a-aventura-da-auto-publicacao/
Por Daniel Cariello
Em 2007, fui morar na França. Meu francês se limitava a “croissant” e “quatre-vingt”, que significa “oitenta” e eu conhecia porque achava muito estranho eles dizerem “quatro vinte”, fazendo conta para falar um número. As descobertas iniciais na nova casa foram tão intensas que criei o site Chéri à Paris, no qual postava crônicas semanais sobre a vida de um brasileiro na terra do fromage. Logo elas passaram a ser republicadas por veículos como Outras Palavras, Le Monde Diplomatique online, Magazine Brazuca (em Paris) e UOL.
CHERIPARIS_Capa_F02.inddUm ano depois, recebi e-mail de uma editora: “Adoramos seus textos. Avise-nos se quiser lançá-los em livro”. Claro que queria, era o meu sonho! Respondi na hora e já passamos à discussão de detalhes do contrato. A dona da instituição me confessou ser apaixonada por tudo o que diz respeito à França. Desconfio que era também interessada por druidas e suas magias, pois, assim como apareceu do nada, sumiu pouco tempo depois, sem deixar vestígios. Verdadeira Panoramix moderna.
Se a poção mágica de sumiço que ela tomou me deixou triste por um lado, por outro me motivou a fazer um projeto enviá-lo a editoras, escritores, críticos e a todo mundo que tivesse alguma relação com o mercado editorial. O que não sabia, no entanto, é que aquela recusa era apenas a primeira de uma longa série de “não, obrigado”, “não há interesse por crônicas”, “não há planos de novos lançamentos esse ano” e diversas outras variações introduzidas pelo monossílabo de negação. Cansado, quase desisti de publicar o Chéri à Paris.
Autopublicação?
“Daniel, você precisa lançar um livro”, dizia a lacônica mensagem que recebi às 23h de uma terça-feira vulgar de setembro do ano passado, enviada pelo amigo e escritor Yury Hermuche. De bate pronto, devolvi o desafio. “Ok, mas só se você também escrever um e lançarmos juntos”. Ele topou. E aí me dei conta de que não tínhamos editora. E eu não sentia nenhuma vontade de correr atrás novamente. “Pra quê?”, ele perguntou. “Autopublicação. Você vai ser seu próprio editor. E a tiragem se paga rapidamente, você vai ver”.
TEXTO-MEIO
A rua de todo mundo - Carolina NogueiraA ideia de convidar as amigas Carolina Nogueira e Gabriela Goulart Mora a participarem com a gente foi natural. Achei que tinha tudo a ver elas colocarem no papel um pouco de suas experiências distantes: Carolina, em Paris; Gabriela, na Índia. Terminamos os quatro livros no tempo recorde de dois meses. E decidimos criar um selo para reuni-los. Afinal, se a amizade nos unia, a temática dos livros (distância, estranhamento e viagens) também nos era comum.
O selo Longe já nasceu com os genes da independência e da autopublicação, bem explícitos no manifesto publicado em nosso site: “Com todo respeito ao mercado editorial, (…) nosso negócio é outro. Queremos escrever livros, contar nossas histórias, compartilhar nosso universo – e queremos ser lidos. Só isso”. E continuamos: “Aliás, o gosto pelo papel também tem a ver com a decisão. Escolher a gramatura, a textura da folha que vai receber nossas ideias, a fonte com que serão compostas páginas (…) – por que diabos delegaríamos tudo isso a outra pessoa?”
Anti-heróis e aspirinas - Yury HermucheMas funciona?
E muito. A noite de lançamento do Longe reuniu mais de 1.000 pessoas no Cine Brasília, o cinema mais tradicional da cidade. Ali, vendemos 700 livros e praticamente pagamos as tiragens. Depois, como não temos distribuidora, criamos sites individuais e um coletivo, para o selo, onde os livros estão à venda. E firmamos parcerias com diversos pontos de comercialização, dentro e fora de Brasília.
O reconhecimento veio ainda de outras maneiras. Toda a mídia local escreveu sobre o Longe, assim como diversos veículos nacionais. Além disso, A Rua de Todo Mundo, da Carolina, foi escolhido para ser oficialmente lançado pela II Bienal do Livro e da Leitura, que ocorre em abril, em Brasília; Anti-heróis e Aspirinas, do Yury, teve mais de 100 mil downloads de seu e-book em inglês e de sua trilha sonora; e Depois das Monções, da Gabriela, ficou entre os 20 mais vendidos da loja Amazon, em março.
Já o Chéri à Paris foi destaque em veículos como Folha de S. Paulo, Estado de Minas, Diário de Pernambuco, Educar para Crescer, Rádio Senado e CBN. O e-book, que eu mesmo formatei e publiquei, foi duas vezes o mais vendido da loja Amazon. Entre livros físicos e digitais, Chéri já vendeu mais de 1,2 mil cópias em pouco mais de 3 meses, o que é um feito considerável para o mercado editorial tradicional. E quase heróico para o independente.
Depois das monções - Gabriela GoulartA iniciativa vem sendo tão bem sucedida que autores que antes apostavam na publicação tradicional, via editora e distribuidora, já estão nos contactando. A autopublicação é um caminho sem volta. E que vai longe.
Conheça:
Chéri à Paris – www.cheriaparis.com.br
Selo Longe – www.muitolonge.com.br

in: Actas de amor, álbum de colagens | 2014

© Madame Zine, "How to be yours", Love Letters series, 
collage in typewritten letter, 2014


Love Letters, Madame Zine (when love is found)
© Madame Zine

in: Actas de amor, álbum de colagens | 2014

© Madame Zine, in: Actas de amor, caderno de colagens | 2014

Arquivei num livro de actas umas quantas cartas de amor. As cartas de amor têm memória, leio-as como fragmentos de histórias, como colagens de momentos de vida além, do aqui e do agora, nelas há um pouco de tudo o que somos e sentimos para além delas, nelas há o drama, o sonho, a experiência, a singularidade e a memória translúcida de quando ousamos ser por vezes ridículos, outras coragem, e a seu tempo poetas. Tal como as actas, nestas cartas que escolhi para um álbum, sobra tudo, exceto o essencial que fica registado, da memória. Sob o signo do fragmento o essencial resgata sobras e faz oferendas, premissas, primorosos frutos de uma linguagem-vida-linguagem. De umas quantas cartas, envelopes e postais que encontrei por aí, surgem-nos histórias, na sua maioria tornar-se-ão histórias nossas, contadas por nós, acrescentadas às ideias e sugestões que as imagens e os escritos de outros lhes conferem. Juntei algumas cartas e postais que eu mesma tinha recebido outrora. Lembro de pensar que queimei umas quantas, rasguei outras, deitei fora outras… talvez porque as cartas são também actas de amor e a sua guarda actos a conferir a momentos únicos o registo de momentos eternos. Talvez sejam o reflexo da mão que deseja o amor para sempre, sabendo do efémero a marcar o passo pelo caminho.


© Madame Zine