© Madame Zine, in: Actas de amor, caderno de colagens | 2014
Arquivei num livro de actas umas quantas cartas de amor. As cartas de amor têm memória, leio-as como fragmentos de histórias, como colagens de momentos de vida além, do aqui e do agora, nelas há um pouco de tudo o que somos e sentimos para além delas, nelas há o drama, o sonho, a experiência, a singularidade e a memória translúcida de quando ousamos ser por vezes ridículos, outras coragem, e a seu tempo poetas. Tal como as actas, nestas cartas que escolhi para um álbum, sobra tudo, exceto o essencial que fica registado, da memória. Sob o signo do fragmento o essencial resgata sobras e faz oferendas, premissas, primorosos frutos de uma linguagem-vida-linguagem. De umas quantas cartas, envelopes e postais que encontrei por aí, surgem-nos histórias, na sua maioria tornar-se-ão histórias nossas, contadas por nós, acrescentadas às ideias e sugestões que as imagens e os escritos de outros lhes conferem. Juntei algumas cartas e postais que eu mesma tinha recebido outrora. Lembro de pensar que queimei umas quantas, rasguei outras, deitei fora outras… talvez porque as cartas são também actas de amor e a sua guarda actos a conferir a momentos únicos o registo de momentos eternos. Talvez sejam o reflexo da mão que deseja o amor para sempre, sabendo do efémero a marcar o passo pelo caminho. |