As cidades revelam-se e pergunto-me com os pés no ar como revelar uma cidade transferindo o que dela em nós se edificou. E pouso os pés, se eu tivesse de escolher um escritor do Porto, que me tivesse revelado o Porto, escolheria vários mas seleccionaria três, Sophia de Mello Breyner, Agustina Bessa-Luís e Eugénio de Andrade. Se tivesse de escolher um pintor para representar o Porto era o Jaime Isidoro. E sigo a pé pelas ruas, observando, uma cor seria o azul e uma imagem seria o azulejo. Azul, contudo, a densidade portuense, tal como a neblina, é branca, tal como a junção de todas as cores do espectro visível. E quando caminho, sinto esta densidade que vibra na memória do som da cidade onde vivo, da poesia e do mar, e tudo me ocorre e está ali, aqui, em mim. É como dizer de modo mais simples o complexo, que as cidades têm ruas que se cruzam, então quando deambulo por aí, às vezes, parece-me que o Porto é só uma rua, de múltiplos sentidos, com várias artérias convergentes, um mapa em aberto que vou lendo e redesenhando enquanto admiro as obras dos seus artistas e a vida das suas gentes.
Texto: Cristina de OAlves (Madame Zine)
Texto: Cristina de OAlves (Madame Zine)
Técnica/Materiais: Conjunto de 5 peças (ao todo 10 telas sobre bastidores de madeira unidas com dobradiças, com aplicação da técnica de transferência fotográfica sobre as telas e tinta acrílica com gesso), imagens e texto impressos em papel cartão, mapa do Porto recortado, som da cidade com leitura de texto e fragmentos de diversos poemas, de Eugénio de Andrade, Sophia de Mello e Breyner Andressen e Agustina Bessa Luís.