retirado de porto24.pt // texto por Mariana Marques
A partir desta sexta-feira e até ao próximo dia 28, a Avenida dos Aliados, no Porto, vai estar mais animada, com literatura e outras formas de expressão artística. O Letras na Avenida, a alternativa à Feira do Livro, suspensa este ano por falta de verba, tem como objectivos promover a leitura e incentivar os hábitos de consumo de produtos culturais.
Ao contrário do certame organizado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), o Letras na Avenida aposta nas livrarias portuenses e não nas editoras, como acontece no mercado normal. É a primeira vez que participam apenas as livrarias, embora algumas editoras estejam presentes através destas.
Os livreiros com quem o P24 falou mostraram-se entusiasmados com a iniciativa. “É uma feira em que vão ser os livreiros que vão estar presentes. É algo inédito, que nunca aconteceu”, adiantou Dina Ferreira da Silva, proprietária da livraria Poetria.
De acordo com o que divulgou, em comunicado, a Câmara Municipal do Porto, o evento vai contar com a presença de livrarias com maior tradição na cidade, como a Imprensa Nacional Casa da Moeda ou a alfarrabista Moreira da Costa (a mais antiga da invicta), mas também de outras mais recentes, como a Book House ou a Poetria. A autarquia organiza o evento juntamente com a cooperativa cultural CulturePrint, responsável pelo Bairro dos Livros, um evento mensal que acontece em livrarias e outros espaços da baixa. Para além das livrarias, terão expositores a Universidade do Porto, o Instituto Piaget, o Cineclube e o Inatel.
Algumas das livrarias presentes no evento vão representar o catálogo de editoras, como é o caso da Poetria. Segundo Dina Ferreira da Silva, dona da livraria, esta situação é vantajosa. “Temos que pagar uma renda de 300 euros, não muito alta comparativamente com o que os editores pagavam à APEL, na Feira do Livro. No meu caso, consegui uma exclusividade com a editora Relógio d’Água, que me disponibiliza todo o catálogo para estar lá à venda. Portanto, a Relógio d’Água contribui com a maior parte da despesa, fez-me preços dos livros bastante vantajosos de forma a poder fazer preço de feira ao público”, adiantou a proprietária, entusiasmada com o evento.
Dina considera que o Letras na Avenida não substituirá a tradicional Feira do Livro, que não aconteceu este ano devido ao facto de a Câmara do Porto ter cortado o apoio de 75.000 euros à APEL e de esta não ter verba para realizar o evento. “Continuo a achar que é lamentável que não tenha existido a Feira do Livro. Este evento é uma alternativa, uma forma de os livreiros poderem estar na primeira linha e, se tudo correr bem, até pode fazer história”, afirma Dina.
Miguel Carneiro, sócio-gerente da alfarrabista Moreira da Costa, também se mostra entusiasmado com o Letras na Avenida. Devido aos altos preços de inscrição para a Feira do Livro, que chegavam perto dos 2.000 euros, a Moreira da Costa não participava no evento há mais de 10 anos. Miguel considera que o Letras na Avenida é mais benéfico. “Este evento é feito pelas livrarias da cidade do Porto, logo é muito mais vantajoso porque as livrarias é que representam as editoras e sabem mais dos livros que vão estar expostos.”
Apesar de a livraria Lello não estar presente no evento, Antero Braga, um dos proprietários tem uma opinião positiva acerca do Letras na Avenida. “Penso que se este evento for bem organizado, substitui com vantagem a Feira do Livro”, considera Antero, que alerta para a difícil situação dos livreiros. “Têm vindo a acabar, não só na cidade do Porto como no resto do país. Tem sido obviamente por prepotência de desigualdade de tratamento relativamente aos livreiros para com as grandes companhias: supermercados, FNAC’s, Bertrand’s”, considera o proprietário.
Bairro dos Livros anima o evento
O Letras na Avenida contará uma programação vasta e ecléctica. O certame vai ter animação cultural de manhã à noite: concertos, lançamentos de livros, tertúlias em espaços comuns, sessões de autógrafos. Destaque para a estreia do documentário “Juntos”, do maestro António Vitorino de Almeida, que foi feito após o 25 de Abril de 1974 e será exibido pela primeira vez em Portugal no Letras na Avenida.
A iniciativa “Conversas históricas” em torno da obra de autores clássicos, que habitualmente fazem parte da programação do Bairro dos Livros, é outra das actividades com destaque no Letras na Avenida: declamadores de poesia trabalham a obra de autores que já faleceram e respondem em nome do autor. É uma forma de as pessoas aprenderem a obra sem ser através da leitura ou de uma adaptação cinematográfica.
O Stand Up Poetry, a Hora do Conto, cinema de animação, um espectáculo de marionetas e oficinas de expressão plástica completam a oferta desta alternativa à Feira do Livro.