em Novembro de 2009 saía o caderno artístico "nós somos quem sois" ilustrado com bonitas imagens da Hélia Aluai e palavras minhas
a sua criação partiu do convite para uma exposição da Hélia, com interação performativa da Vera Santos, música de Quico Serrano e, mais tarde um vídeo da Tânia Duarte
contava assim o seu começo -----------
Adensar a inspiração e a expiração do gesto artístico.
Respirar fundo, profundo, fundir.
Fazer das minhas palavras um movimento outro mas parceiro dos outros movimentos que aqui se geraram, desenho, dança, dizer.
Fados de dor, dedos esgrimistas em tanto dar.
Parei, pensei, avancei, nem sempre por esta ordem, nem sempre com ordem. Um texto é um articulado e uma expressão, pede comunicação, empatia e compreensão. Mas sejamos gente de esperança e que resulte dela, mais do que tudo, a sua emoção.
As palavras são ritmos, sobre fios, equilibristas. As palavras são costume, ferramenta, serviços prestados.
Eu não desenho imagens das palavras mas uso imagens para desenhar palavras, não canto as palavras mas sonho acordada em claves de sol.
Eu sou mulher, nós somos três, trio, cúmplices, inconsciente, colectivo. Nós somos mais, perdi a conta, sem vezes, demasiadas. Nós somos quem sois.
Nós somos quem sois. Nós estamos em tudo. A lida, as horas, o passado, o presente, o futuro, do tempo que voa. Nós somos senhora e gaiata. Visão de dentro, sentida, sem ofensa, distante, do mesmo e de outro planeta. Nós somos de Vénus, corpos a tocar as estrelas, de mantos negros cobertas. Nós somos elas.
Eu sei que vocês sabem. Que vocês são movimento também, gesto indefinido, escrita de quem lê, enquanto seguram na folha, os vossos pensamentos agitam-se, os seus olhos balançam, da esquerda para a direita, de cima para baixo, por vezes, avançando, recomeçando.
Eu sei que vocês reconhecem. Que vocês são interrogação, exclamação e reticências. E que é difícil voltar à página do início depois do ponto final. Sabem que por dentro, das palavras, muitas histórias se calam.
Estamos de novo no começo.
Insolente, orgulhoso, desconcertante, em luto, em luta, em abandono, a mando, a sumir, em esperança, à espera, fugidia, vadia, marcante, marcada, sumida, presente, dignificante.
Elas são figuras de espanto suspenso.
Elas mostram ecrãs de séculos passados.
Elas…
Em visões simbólicas, a mãe que conta a história à filha que a sua avó já contava, retalhos, migalhas de uma manta pintada em diferentes cores mas que no final serão sempre a preto e branco.
Elas, como as palavras escritas numa folha de papel, mesmo que tingidas de sonhos a purpurina colorida, umas em realce, outras bem gastas, tinta negra em fios que mancham, sonhos de papel reciclado, contos amarrotados que se continuam a reescrever, sem conta.
Elas somos nós.
Nós somos a que cala o que diz, a que queda o que escorre, a que envolve o que fica, a que agradece o que se esforça, a que lê o fim para aplaudir ao princípio.
Nós…
Num palco, matéria de realização do espectáculo a que assistimos de pé para no final varrermos a sala e fecharmos a luz. Holofotes, magia, acção. Vidas reais pelas mãos traçadas, de palmas batidas, escondidas, uma a uma. Nós, num conjunto, soltos, seres individuais, e do amargo de tantas lembranças deixamos, sem querer, de abraçar, até sermos apanhados de surpresa num abraço subtil, num manto negro colhidos na ironia do destino, desse fado, de olhos fechados.
Nós somos elas.
Neste traço, neste salto, nesta escrita, feitos de movimentos e de gestos, de alma e de corpo.
Tudo isto é fado, tudo isto é vida.
------------- o texto do caderno fica por revelar, se quiser adquirir um escreva um email ao meu cuidado (madamezine@gmail.com)
NÓS SOMOS QUEM SOIS (WE ARE WHAT YOU ARE) from Tânia Duarte on Vimeo.